História
Enquanto a CUT-Brasil foi construto dos operários do pólo industrial na região do ABC paulista, berço do Novo Sindicalismo, atribuindo-lhe uma face industrial, no Maranhão a CUT-MA nasce no município de Caxias no mês de julho de 1984 com característica mais rural.
Significa dizer que a fundação da CUT-MA encontrou, como justificativa para sua criação, o grande número de conflitos de terras, nos quais centenas de trabalhadores eram vitimizados. É importante destacar que, nas áreas conflituosas, organizações como a Comissão Pastoral da Terra – CPT, Sociedade Maranhense de Direitos Humanos – SMDH, Cáritas e os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais – STTR’S tiveram papel fundamental no que se refere à articulação e à mobilização de trabalhadores em defesa de direitos humanos. No Maranhão, o bloco combativo restringia-se apenas a alguns trabalhadores de base com pouquíssima experiência. Deste modo, o Novo Sindicalismo que nasceu em São Paulo tinha uma feição operária, enquanto no Maranhão, devido às características da economia, os construtores da CUT-MA relacionam a base social à área rural e aos profissionais liberais. Desta forma, os primeiros sindicatos filiados foram SENGE (Sindicato dos Engenheiros) e SAS (Sindicato dos Assistentes Sociais).
O Novo Sindicalismo configurado na CUT-MA foi uma expressão da insatisfação com a prática engessada que pairava no interior dos sindicatos, durante o regime militar. Tais sindicatos eram pelegos e não atendiam realmente aos interesses da classe trabalhadora. O contexto socioeconômico de trabalhadores urbanos e rurais no Estado impulsionou as condições reais para a organização e mobilização desses trabalhadores e movimentos populares, aqui o papel da Igreja se sobressaiu no processo de construção e reconstrução de um pensamento crítico-político em torno das questões socioeconômicas das massas.
A CUT-MA, segundo um de seus construtores, obteve legitimidade no campo onde a questão fundiária sempre foi bastante acentuada, além do mais no Maranhão não havia sindicatos da indústria com características de entidades marcantes, como foi no ABC paulista.
É necessário pontuar que, no Maranhão, como em todo Brasil, o Encontro Nacional da Classe Trabalhadora – ENCLAT, realizado em 1982, tinha escolhido uma comissão pró-CUT unificada que reuniu sindicalistas combativos e pelegos, estes com maior força para deliberarem sobre a fundação de uma central no Maranhão. Assim que a CUT-Brasil foi fundada, estava lançada às lideranças sindicais a tarefa de organização das seções estaduais, ou seja: a criação de centrais estaduais e regionais com o intuito de garantir-se o projeto nacional, vislumbrando a ampliação e fortalecimento do movimento sindical no país ante os desafios postos pela conjuntura nacional. Isso porque, embora estivesse vivendo um processo de transição democrática na década de 80, os sinais de crise econômica deixados pelos governos anteriores já se faziam sentir nos altos índices inflacionários, refletidos nos baixos salários, elevado número de desempregados e precarização das relações de trabalho. Tudo isto que encontrou no fenômeno da reestruturação produtiva(desde a década de 1970 com a crise do petróleo um novo modelo organizacional e administrativo que passou a incidir sobre todas as dimensões da vida das pessoas interferindo, inclusive, na forma como o individuo percebia a si e ao outro.
Na CUT-MA desde sua fundação residiu, segundo o relatório do I Congresso Estadual da CUT-MA (I CECUT) realizado em 1985 por meio da pronunciamento de Abdias dos Santos (Tesoureiro Nacional da CUT), a organização da CUT em nível nacional e as tarefas para a mobilização dos trabalhadores no campo e na cidade. Assim se indicavam três pontos fundamentais ao fortalecimento da CUT: busca da unidade dos trabalhadores em torno de suas lutas, fortalecimento das estruturas da CUT através da filiação de sindicatos para o pólo combativo e a definição do Plano Nacional de Mobilização acerca das principais bandeiras de luta, como 40 horas semanais, reajustes trimestrais, Reforma Agrária sob o controle dos trabalhadores, campanha contra a violência no campo, reposição salarial, etc.
Era de vital importância para o projeto nacional proposto pela CUT-Brasil uma aglutinação de forças através da luta conjunta entre campo e a cidade, contando com a participação de trabalhadores e trabalhadoras de diferentes setores da economia e dos movimentos sociais. Essa estratégia de luta foi incorporada pela CUT-MA no seu plano de ação, conforme os documentos oficiais. A influência da CUT-Brasil sobre a CUT-MA se expressa nitidamente através da maneira como a última procura efetivar seu plano de lutas em consonância com os propósitos da CUT sob a orientação dos princípios do Novo Sindicalismo, incorporando ao plano geral das lutas aquelas que são específicas de determinados segmentos da sociedade como o movimento de mulheres, negros, homossexuais, os sem-terra, luta pela moradia, etc. A CUT, desta forma, assume o compromisso da luta contra as discriminações e incita a participação dos segmentos que estiveram sempre à margem do Capitalismo.
Para a CUT, é importante inserir na sua pauta reivindicativa os setores marginalizados da sociedade, uma vez que o projeto defendido apóia-se numa nova práxis sindical, visando uma ação ampla que interfira na construção e consolidação de Políticas Públicas no bojo da dimensão das disputas em todos os espaços onde persistem as correlações de força. A sua identidade se forja no compromisso com a classe trabalhadora e demais setores da sociedade civil em busca de alternativas de ação que surtam efeito sobre as demandas colocadas pela sociedade num esforço de contemplar necessidades e interesses da classe trabalhadora e das massas populares. Para que isso se torne possível, a CUT entende que a construção dos espaços públicos deve ser feita com base no exercício de cidadania efetivado através da Democracia e participação ativa dos agentes sociais nos espaços de discussão política em defesa e consolidação de seus direitos, assim como participação na riqueza material e imaterial produzida socialmente. A CUT se coloca como instrumento da classe trabalhadora que não se restringe a questões meramente do mundo do trabalho, mas volta-se para o microuniverso da vida cotidiana.
A CUT-Brasil exerce sua importância sobre a CUT-MA desde o surgimento desta em 1984 em relação aos pilares que sustentam e garantem uma ação centralizada e unificada das lutas históricas e imediatas dos trabalhadores construídos numa longa caminhada em busca de conquistas e se processam até a atualidade através dos princípios do Novo Sindicalismo. Esta como concepção que traz embutida no seu âmago a vontade de milhares de trabalhadores e trabalhadoras de alterar suas condições de vida. Essa bandeira tornou-se primordial para a concretude de um Sindicalismo mais representativo na base. Portanto, uma nova práxis sindical capaz de poder libertar os diferentes grupos sociais das amarras da passividade oriunda de uma cultura da submissão existente desde o período colonial no Brasil.
É importante observar que, em relação ao divisionismo dos trabalhadores acerca da criação da CUT-Brasil, essa situação se reproduziu no Maranhão.
A análise explicita que a CUT-MA, no seu processo de construção, foi um espaço propenso a conflitos políticos – ideológicos, já que havia grupos dissidentes no interior do movimento sindical divididos entre criar ou não naquele momento uma central. Os sindicalistas maranhenses, que haviam participado do CONCLAT (1983), que culminou na criação da CUT – retornaram ao Maranhão com a tarefa de fundar uma CUT – Estadual articulada à CUT-Brasil sob orientação do Novo Sindicalismo; primando pelo fortalecimento das bandeiras de luta no âmbito nacional e defendendo uma ideologia assentada numa nova sociabilidade sob perspectiva socialista. Assim, também buscando apresentar um posicionamento de confronto diante da lógica estatal interlocutora em grande parte dos interesses da classe dominante que desconhece as múltiplas faces da pobreza expressas através da exclusão social.
Compreender a CUT implica conhecer a sua história tendo por parâmetro o Novo Sindicalismo, pois esse é o ponto inicial que norteia o espírito de construção e reconstrução de práticas sindicais alinhadas aos desígnios mais profundos dos trabalhadores em direção à própria emancipação. É buscando nas nuanças das relações sociais desenvolvidas nos estágios da Humanidade que a categoria trabalho se apresenta central na produção e reprodução da vida dos trabalhadores. Nessa acepção, o movimento constitutivo da vida é capaz de forjar os atores sociais demarcados em seu papel de lutar por melhorias no estado de sobrevivência. Daí surge protagonistas, como a Igreja e os movimentos sociais no processo de construção da CUT.
No processo de organização e mobilização das massas, a Igreja sempre teve papel de relevância ao lado daquelas camadas mais vulneráveis da sociedade. A igreja confere tarefas de cunho político na função desmistificadora das falácias do sistema de exploração do Capital junto às camadas populares e que podem ser comprovadas através de seu trabalho com as comunidades de base. Movimentos sociais conservam vínculos históricos com a Igreja nas lutas por justiça social; a exemplo disso, o próprio movimento sindical contou muito com a contribuição da igreja no processo de construção de um novo sindicalismo.
Na CUT-MA, a atuação da Igreja ocorreu de forma significativa para com as lutas dos trabalhadores, contribuindo junto com os movimentos sociais na constituição de uma identidade coletiva. Logo, o Maranhão durante a década de 80 apresentou um cenário socioeconômico e político que propiciou o desenvolvimento de uma consciência crítico-política dos trabalhadores do campo e da cidade e segmentos da sociedade civil articulados e organizados nas lutas gerais da CUT.
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